Sobre servir e serviço
SERVIR significa ajudar, oferecer, sentir-se útil a algo ou alguém, auxiliar. SERVIÇO significa dar de si algo em trabalho.
No dicionário, o conceito não traduz em palavras o efeito que a cultura incutiu nessas palavras. Ora utilizada de forma pejorativa, ora utilizada como sinônimo de algo “nobre”. O porquê eu não sei bem. Mas eu, simples mulher e mãe, que ocupa um dentre os múltiplos papéis que a sociedade enxerga (ou diz enxergar), percebo claramente a distinção entre o servir e o serviço para nossa sociedade.
Doula, aquela que serve. Doula, serva. Maria foi ao encontro da prima Isabel, ajudá-la na fase da gestação do seu primogênito. Maria estava gestante também. Mas Maria sentiu o chamado e foi. Porque quem serve, guarda suas dores e alegrias para ir ao encontro do outro, para servir. Acolher os sentimentos e emoções. Consolar, apoiar, dar suporte, ser suporte. Orientar, informar, mostrar o caminho e caminhar junto.
Esse mesmo serviço, quando remunerado, é questionado, muito questionado. Eu já não sirvo mais (!?) “Porque servir verdadeiramente é servir com devoção”, dizem.
Qual profissão/função/cargo é possível exercer excluindo-se o componente emocional/mental/espiritual? O que você pode fazer hoje enquanto sua mente, seu coração e sua alma estão dissociados do teu corpo?
Então, se a doula serve, no serviço ela se doa em esforço e estudos. Mas a doula tem família, a doula é família. E o pagamento é válido, necessário, legítimo. O voluntariado é que é espontâneo. Doação envolve abdicação. A escolha precisa ser livre.
Profissionalmente, precisamos estudar, cuidar de nós mesmas (alô, terapia!), cuidar dos nossos, aliar com as demais atividades que nós nos propomos a realizar.
Entre orações e aflições, nós vamos seguindo e superando.
Então, por favor, apenas pare. Pare de achar que pode relativizar nosso trabalho, que pode precificar nosso serviço, que pode questionar se servimos “verdadeiramente” ou não. Você não pode, nem deve.