Doulagem,  Educação perinatal

Por que eu me tornei uma doula?

A sementinha começou em meados de 2015, quando, ao final de uma missa, houve um convite e um apelo às pessoas ali presentes, com disponibilidade de tempo, para servir através do trabalho voluntário na Pastoral da Criança. Eu e outras pessoas nos sentimos impelidas a ir no primeiro encontro, entender do que se tratava e decidir se faria parte desse projeto.

Eu nunca ouvi falar do trabalho da Pastoral da Criança de forma detalhada. Assisti, de casa, a comoção pela morte de sua cofundadora Zilda Arns, mas não entendia o real impacto que a TV insistia em frisar. Para ser bem sincera, nunca tive uma relação duradoura, quiçá confiante, na TV, no jornalismo em geral.

Lá, no encontro, eu entendi do que se tratava. E me apaixonei. Que trabalho belíssimo! As pessoas eram muito acolhedoras, o trabalho era organizado e nessa época eu tinha muito tempo disponível para esse serviço.

Durante a formação, conheci a figura da doula. Conheci a importância da gestante conhecer seus direitos (principalmente o do acompanhante de sua escolha), a necessidade de fazer um plano de parto, a importância e como incentivar à amamentação, os cuidados com o recém-nascido, os cuidados com a puérpera. Gente, como eu aprendi!

Muitas pessoas me viram falar de parto, de gestação, coisas assim, quando eu engravidei. Mas a verdade é que esse assunto sempre fez parte de mim desde que tive contato com a Pastoral da Criança.

Durante meu serviço nesta pastoral, eu aprendi a não ter medo de segurar um recém-nascido, aprendi que uma mãe nasce quando ela acredita que nasceu (casa uma no seu tempo), aprendi o que é uma rede de apoio e como devemos dar atenção à mulher no pós-parto.

Eu pesquisei por cursos para formação de doulas. Não havia aqui em Sergipe. Eu mapeava para saber quando teria em Salvador. Calculei quanto eu iria precisar. Mas o tempo vai passando e a falta de contato (não consegui, naquela época, contatar doulas atuantes aqui no estado) ia afastando essa possibilidade.

Depois de um tempo sem pensar no assunto, vi fotos do parto de uma minha colega de escola e foi mágico. No primeiro momento, pensei “onde Carol arrumou essa doula?”, depois eu caí em mim: havia se passado alguns anos, eu agora tinha Instagram, podia pesquisar sobre doulas aqui em Sergipe e fiquei bem feliz com isso.

Quando soube que minha amiga Neide estava sem acompanhante para o parto da isabela, eu me ofereci. Comecei a ver uns vídeos na internet, preparei até uma bolsa estilo “a la doula”: com comida, bolinha para massagem, espelho etc. Mas na prática, muita coisa não se encaixou e eu fiquei muito frustrada por não ajudar minha amiga mais do que eu poderia, seja por falta de conhecimento, seja por falta de possibilidade na instituição que estávamos.

A inexperiência me dizia: pare. A vontade de ajudar mais mulheres me dizia: continue.

Voltando às pesquisas, eu reencontrei a Luana e vi que ela tinha sido acompanhada pela Tamyres. Marcamos um encontro e ela me explicou: você precisa conhecer outras doulas pessoalmente, precisa conversar, tirar dúvidas, perceber a conexão. Pedi a lista de doulas que atendiam no interior no Facebook da Associação de Doulas de Sergipe e fui contatando uma a uma.

Nossa, não é que existe isso de conexão mesmo? Quando encontrei a Cris tive a certeza da tal conexão. Me senti confortável, à vontade, me senti livre.

É isso que a doula representa. No seu serviço, o apoio e a entrega da mulher estão intimamente relacionados. Por isso, muitas mulheres ainda não se abririam a experiência de contar com uma doula: o receio trava, a desconfiança afasta a ideia e a falta de conexão não permite que “qualquer doula” seja a sua doula.

No meu puerpério, eu desisti da ideia de ser doula. Eu lembrava de como a Cris foi forte, decidida, de como acertava no que eu precisava, de como era segura, eu lembrava da força que ela tinha apertando meus quadris também.

A verdade é que tinha tido uma experiência tão boa que eu me autossabotava, me questionando se seria boa exercendo esse serviço também.

Quando eu soube da existência do curso da enfermeira obstétrica Rosi Lima no estado vizinho, resolvi que seria uma ótima oportunidade. Estava marcado para junho de 2020, mas aí veio a pandemia… E eu passei a refletir se era por aí mesmo que eu deveria ir.

Meu diretor espiritual sempre me incentivou a não me esconder. Não levo uma vida perfeita. No entanto, sabemos que quando ajudamos alguém e esse alguém põe em nós sua confiança, nós nos tornamos referência para ela. O curso da Rosi é conhecido pela sua ênfase na perspectiva cristã. Eu tinha receio de não corresponder à imagem que eu anunciaria.

Meses depois, a minha amiga Ludmila me falou que a Ana Mendes abriria um curso online. Eu conhecia a Ana, mas já não a seguia mais nessa época. Comprei o curso, estudei, conquistei meu certificado.

Tem mulheres que vão criar conexões com doulas mais naturalistas, outras com doulas cristãs etc. As combinações são imensas. Às vezes, a identificação é o segredo. A minha doula foi perfeita do início ao fim e eu não sei te dizer se ela é católica ou mesmo se tem religião. Mas eu sei que para algumas mulheres esse é um aspecto inegociável.

Tornei-me doula porque acredito que isso faça parte do plano de Deus para minha vida e, sendo assim, trabalharei e rezarei para seguir e crescer nesse serviço.

Ajudar mulheres a se encontrarem na maternidade é, agora, minha missão particular.

Aos 20 anos, parei de cursar Psicologia e fui experimentar o que seria (ou mais faria) na vida. Tornei-me servidora pública aos 23. Sou mãe, pedagoga, artesã, doula e (quase) enfermeira. Estão entre as minhas habilidades fabulosas cortar um bolo magnificamente bem, lembrar inúmeros sonhos e fazer vestidos de noiva.

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