Maternagem

Em qual maternidade você tem se reconhecido?

Quando minha filha nasceu, eu não senti o impacto esperado. Parir é transformador, eu sei. Mas eu já havia, de certa forma, internalizado esse divisor de águas. Resultado: anestesiei-me. Eu aceitei o que veio após o parto de forma leve quanto possível para não “manchar” as lembranças do meu parto. Lembro da minha mãe dizer que não entendia como eu podia estar tão incomodada e com tanta dor pelos pontos da laceração se eu tinha parido e, portanto, deveria ter uma nova referência de dor.

Nos meses que se seguiram, eu continuava a cuidar da minha boneca que crescia. Não tive receio de dar banho ou cortar a unha. Não tive problemas em acordar nas primeiras noites, também logo ela estava dormindo tantas horas seguidas que eu nem lembrava que tinha uma recém-nascida em casa. Ela também não fazia cocô todo dia, nem a cada dois dias. Era a 7, 10, 15 dias. Que bebê que eu conheci que era assim? Nenhum. Não usou chupeta, nem mamadeira. Não mamou maravilhosamente bem no início, mas depois do primeiro mês tudo foi mais leve. Não babava o quanto eu esperava que fosse babar. Não tinha o cheiro de “gogó” pela casa. Não consegui nem usar todas as fraldas flat (tipo cremer, fininha) que comprei e olhe que eu fui bem básica no enxoval.

Eu tive uma bebê e só percebi que a maternidade que vivia estava ali comigo desde sempre quando eu parei de esperar da minha filha que ela refizesse todas as lembranças que eu tinha dos bebês que eu convivi. Mais consolador do que a tendência da hastag maternidade real (#maternidadereal). Revigorante até. Cortar laços com as memórias é necessário, eu percebi.

Por isso, eu te pergunto: em qual maternidade você tem se reconhecido?

Aos 20 anos, parei de cursar Psicologia e fui experimentar o que seria (ou mais faria) na vida. Tornei-me servidora pública aos 23. Sou mãe, pedagoga, artesã, doula e (quase) enfermeira. Estão entre as minhas habilidades fabulosas cortar um bolo magnificamente bem, lembrar inúmeros sonhos e fazer vestidos de noiva.

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