Educação perinatal,  Parto

“Na hora de abrir as pernas, não doeu!”

O termo Violência Obstétrica (VO) se espalhou pelas redes sociais, TV aberta, conversas entre leigos e leigas e também quase sempre tem alguém que diz que é “muita frescura hoje em dia, tudo é violência obstétrica”. Inclusive é até comum de se ouvir isso entre profissionais da saúde.

Primeiramente, o termo obstétrico(a) não refere-se à classe médica. A obstetrícia é um campo amplo que se diz respeito às mulheres que gestam e parem. Todos os profissionais envolvidos e também as instituições que oferecem serviços para esse público estão ligados ao campo da obstetrícia. Então, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA é a violência praticada dentro do contexto da obstetrícia (gestação, parto e pós-parto), NÃO excluindo a prática indevida pelo médico obstetra, MAS também incluindo terceiros leigos (como outra gestante ou familiar dela)

Segundamente, precisamos entender que tudo que afeta nossa autonomia, nosso corpo, nosso espaço de posicionamento, nosso íntimo é VIOLÊNCIA. O debate é muito extenso e intenso, eu sei. Mas tal qual os relacionamentos abusivos, precisamos nomear o que nos acontece, o que sofremos, para só então depois aprender lidar com o que houve e resistir ao que possivelmente virá.

Transcrevi abaixo alguns exemplos comuns de Violência Obstétrica (VO):

  • “Abusos verbais exercidos com gritos, procedimentos sem consentimento ou informação;
  • negar acesso à analgesia;
  • impedimento à presença de acompanhante de escolha da parturiente (que é garantido por lei);
  • negar direito à privacidade durante o trabalho de parto, violência psicológica (tratamento agressivo, discriminatório, autoritário ou grosseiro);
  • realização de cesariana ou episiotomia sem consentimento;
  • uso de ocitocina sem indicação médica com finalidade de acelerar o trabalho de parto;
  • manobra de Kristeller;*
  • proibição de acesso à alimentação ou hidratação e restrição da liberdade de movimentação, obrigando a mulher a ficar recolhida ao leito.”

Exemplos retirados do artigo “Quem tem medo da violência obstétrica?” de Leila K., Melania M. A., Juliana C. G., Maria H. B. e Aline V. M. B., publicado na Revista Brasileira Saúde Materno Infantil, Recife, 20 (2): 627-631 abr-jun., 2020.

*Retratada na imagem, trata-se de técnica ultrapasssada e dolorosa que possui por objetivo acelerar o trabalho de parto ao empurrar o fundo do útero forçando assim a saída do bebê.

Aos 20 anos, parei de cursar Psicologia e fui experimentar o que seria (ou mais faria) na vida. Tornei-me servidora pública aos 23. Sou mãe, pedagoga, artesã, doula e (quase) enfermeira. Estão entre as minhas habilidades fabulosas cortar um bolo magnificamente bem, lembrar inúmeros sonhos e fazer vestidos de noiva.

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